Na condição de presidente da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), diante da repercussão dos fatos relacionados ao protesto realizado em Curitiba no último sábado (5), o vereador Tico Kuzma (Pros) fez a seguinte declaração em plenário na sessão desta segunda (7):
“Considerando a manifestação ocorrida no Centro Histórico de Curitiba, em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário, em protesto a recentes crimes noticiados pela imprensa, nos quais foram vitimados, em situações distintas, o congolês Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho; bem como a repercussão dada ao fato de que a manifestação acabou por adentrar na Igreja mencionada, esta presidência passa a considerar o seguinte:
Repudiamos qualquer ato de violência e atos discriminatórios, em quaisquer de suas formas, entendendo legítimas as manifestações pacíficas que tenham por objetivo a proteção dos direitos de todos os cidadãos.
Da mesma forma, esta Casa não compactua com quaisquer violações às liberdades religiosas e locais de culto, na medida em que se trata de um preceito fundamental para se configurar um estado democrático.
Portanto, assim como apoiamos manifestações pacíficas e nos solidarizamos com vítimas de preconceito e barbárie, apoiamos a preservação das liberdades individuais e repudiamos violações às liberdades religiosas e locais de culto.
Assim, esta Casa não se furtará em apurar quaisquer fatos postos à sua apreciação, com a devida isenção e orientada pelos limites impostos pela Constituição Federal, na medida em que todos se submetem às leis”.
Na sequência, o parlamentar declarou sua solidariedade aos familiares de Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho, bem como à Arquidiocese de Curitiba e ao padre Luís, que estava na Igreja no momento.
O presidente Tico Kuzma também leu aos demais vereadores a seguinte nota enviada pela Arquidiocese de Curitiba ao Poder Legislativo:
“No dia 05 de fevereiro, em torno das 17.00hs, apresentou-se junto à porta da Igreja do Rosário para protestar contra a violência havida no estado do Rio de Janeiro, cujo desdobramento final foi a morte de um cidadão congolês e, em outro caso, a morte de um brasileiro afrodescendente. Era no mesmo horário da celebração da Missa. Solicitados a não tumultuar o momento litúrgico, lideranças do grupo instaram a comportamentos invasivos, desrespeitosos e grotescos.
É verdade que a questão racial no Brasil ainda requer muita reflexão e análises honestas que promovam políticas públicas que contemplem a igualdade dos direitos de todos. Mas não é menos verdadeiro que a justiça e a paz nunca serão alcançadas com destemperos ou impulsividades desequilibradas. Desde a sua primeira inauguração, em 1737, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos sempre foi um lugar de veneração e de celebração da fé. Foram os escravos a edificá-la. Hoje, muitos afrodescendentes, a visitam. E o fazem em grupos ou individualmente. Sempre primaram pelo profundo respeito, até mesmo quando não católicos. Infelizmente, o que houve no último sábado foram agressividades e ofensas. É fácil ver quem as estimulou.
A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer “politizar”, “partidarizar” ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo”. A nota é assinada pelo arcebispo Dom José Antônio Peruzzo.